23-06-2015
O princípio de tudo é também o final de qualquer coisa. Como
um círculo que se fecha.
Como se precisássemos de alguma espécie de turbilhão para
reaver quem somos, ou talvez para recomeçarmos apenas com o que realmente
importa.
Deixa-me sentar.
Deixa-me ficar aqui apenas a olhar. Como se estivesse
encostada a uma parede porque não há portas não há janelas, não há nada aqui. Só
posso ficar aqui quieta à espera que tudo o que me passa pela frente a uma
velocidade vertiginosa acalme... mas eu não quero que acalme, só quero que
desapareça.
Gritos mudos! Choros inquietos! Pesadelos! Insónias! Risos
descontrolados...que acabam em soluços que queimam de tão profundos!
Primeiro não quis nem saber do que achavam, agora dou por
mim a desejar entender o que querem de mim para poder seguir por algum caminho.
Mas será que seguir o caminho que esperam, é mais fácil? Há
tanta gente que espera tanto de nós, e as pessoas são todas tão diferentes.
Todos querem coisas tão diferentes e eu...eu sou apenas uma pessoa.
Fecho os olhos enquanto tudo continua a girar, sinto-me
enjoada porque tenho de continuar a levantar-me e a seguir por aquele caminho
qual máquina... Não quero pensar, não quero sentir, não quero questionar. Não
quero, não consigo, não dá mais.
Dói-me, queima por dentro este desespero que vem por tudo e
por coisa nenhuma.
Hoje sinto falta do que tinha naquela altura em que também
não tinha nada.
Preciso de tempo que ninguém me dá. Porque hoje ninguém tem
tempo.
Mendigo por atenção, mendigo por um carinho, mendigo por uma
vida cheia de coisa nenhuma.
Mendigo pelo que dou de coração. Ou será que esperar receber
o que dou aos outros, não é dar de coração. Será que esperar receber de volta o
que mando é ser menos boa pessoa?
Penso que não devia dar-me a conhecer, já o dei demasiadas
vezes e sempre que ponho o que sou na mesa...acabo sozinha.
E penso: será que
não há nada aqui mesmo?
Será que alguns de nós servem apenas para servir? Será que
alguns de nós ao precisar têm de se contentar com o que tiveram quando serviam?
E nada mais?
Será que alguns de nós têm de se refugiar nos sonhos e não
os podem viver porque não é esta a vida para isso? Quantas temos de esperar? O
que aconteceu antes para que ainda seja assim?
Aprendi a aceitar as coisas e as pessoas como elas são.
Talvez porque seja mais fácil assim. Mas não magoa menos. Aceitar o que vem plo
que é, não me torna mais fraca nem significa que não chore, ou que não espere
que um dia seja diferente.
Não significa que não questione. Mas apenas sinto
que é mais seguro, mais justo, questionar-me apenas a mim. Porque só eu estou
ao alcance de mim mesma. Tudo o resto, todos os outros não estão nas minhas
mãos.
Aceitar as coisas como são, foi o meu acto de maior bravura.
Dar liberdade foi o meu acto de libertação.
Mas a minha libertação tem um preço alto que não consigo
pagar. Não querer controlar o mundo, tem um preço que talvez seja impossível de
pagar. Tenho de aceitar isso também?
Aceitar os outros, sem que me aceitem a mim dói.
Querer os outros sem que me queiram, dói.
Estar lá sem que estejam dói.
Procurar lá fora o que deveria estar cá dentro... dói muito.
E é então que fujo. É nessa altura que fico neste sitio que
embora não tenha janelas, nem portas, me permite ver tudo a acontecer sem que eu
possa “acontecer” também.
Mas depois respiro fundo...abano a cabeça e sigo de novo.
Não sei para onde, nem sequer sei porquê. Estarei onde for precisa, e irei cair
sempre que achar que alguém me quer.